sábado, 4 de dezembro de 2010

Sociedade decadente

Queria tanto poder dizer que salvei velhinhos de morrerem por causa do frio, que ganhei uma medalha de cidadão exemplar, dizer que passei um dia inteiro a plantar árvores e que estou a trabalhar num projecto contra a fome em África. Mas a verdade é que não fiz nem aconteceu nada disso, pelo contrário olho para as notícias que passam no telejornal, dizendo que estamos em crise e que cada vez mais pessoas morrem, que existe mais pobreza e que aconteceu um desastre aqui ou ali, que as pessoas recusam-se a trabalhar, fazendo greves  e que não existem postos de trabalho, quando na verdade todos nós sabemos que cada vez mais gente opta pela comodidade do desemprego.
É isso que está a acontecer à nossa sociedade, acusam os tiranos do governo de tudo o que acontece. Irrita-me que digam que está tudo caro e que já nem dinheiro há para comer, quando por trás enchem as filas de pagamento das lojas dos centros comerciais e vão almoçar ao restaurante todos os dias. Dizem que estamos a aproximarmo-nos da crise, mas muitos hábitos que temos ninguém muda, o consumismo, a ideia de que tudo o que gostamos temos de ter.
O ser humano pode ser tão desprezível, optar por comprar uma peça de roupa que custa tanto como a alimentação de alguém em África a morrer de fome.
Todos nós conseguimos olhar para aquela fotografia cliché do abutre e do menino africano esperando pela hora de morrer,  e dizermos que o mundo está às avessas, que numa parte do planeta a morte seja vista como algo mau e noutra como libertação. Dizemos isso enquanto pensamos em comprar aquelas calças lindas ou ir ao McDonald’s. Preferimos convencermo-nos de que não podemos fazer nada para que isso mude, mas na verdade podemos fazê-lo.
Somos tão medíocres e egoístas que metemos pena a nós próprios.