Queria tanto poder dizer que salvei velhinhos de morrerem por causa do frio, que ganhei uma medalha de cidadão exemplar, dizer que passei um dia inteiro a plantar árvores e que estou a trabalhar num projecto contra a fome em África. Mas a verdade é que não fiz nem aconteceu nada disso, pelo contrário olho para as notícias que passam no telejornal, dizendo que estamos em crise e que cada vez mais pessoas morrem, que existe mais pobreza e que aconteceu um desastre aqui ou ali, que as pessoas recusam-se a trabalhar, fazendo greves e que não existem postos de trabalho, quando na verdade todos nós sabemos que cada vez mais gente opta pela comodidade do desemprego.
É isso que está a acontecer à nossa sociedade, acusam os tiranos do governo de tudo o que acontece. Irrita-me que digam que está tudo caro e que já nem dinheiro há para comer, quando por trás enchem as filas de pagamento das lojas dos centros comerciais e vão almoçar ao restaurante todos os dias. Dizem que estamos a aproximarmo-nos da crise, mas muitos hábitos que temos ninguém muda, o consumismo, a ideia de que tudo o que gostamos temos de ter.
O ser humano pode ser tão desprezível, optar por comprar uma peça de roupa que custa tanto como a alimentação de alguém em África a morrer de fome.
Todos nós conseguimos olhar para aquela fotografia cliché do abutre e do menino africano esperando pela hora de morrer, e dizermos que o mundo está às avessas, que numa parte do planeta a morte seja vista como algo mau e noutra como libertação. Dizemos isso enquanto pensamos em comprar aquelas calças lindas ou ir ao McDonald’s. Preferimos convencermo-nos de que não podemos fazer nada para que isso mude, mas na verdade podemos fazê-lo.
Somos tão medíocres e egoístas que metemos pena a nós próprios.